Comecei por anotar o 'post' da
saltapocinhas dedicado à TLEBS, colocado em 09/12 pela
, do qual me permito respingar para aqui uma parte do texto:"Eu ficava feliz se cada aluno que termina o 12º ano soubesse escrever um texto escorreito e perceptível, e tivesse lido meia dúzia de obras de bons escritores na íntegra!!
Primeiro nasceu a língua, depois é que inventaram a gramática!
E se deixassem as complicações gramaticais para quem vai seguir cursos de línguas?
E que os professores fiquem apenas a ensinar os seus alunos a gostar de ler e a saber escrever!"
Depois disso fui 'navegar' até ao blogue
A Origem das Espécies e verifiquei que o seu autor em 08/12, no 'post' intitulado
"De facto, é o fim. [A TLEBS]", fazia referência a um artigo do Prof. João Andrade Peres, publicado no mesmo dia na revista do Expresso, e ainda aconselhava a ida ao 'site' daquele professor catedrático para quem quisesse consultar a versão alargada da sua posição acerca desta problemática (da qual, o autor do 'post' apresenta uns extractos). Do texto escrito por Francisco José Viegas naquele 'post', tomo a liberdade de transcrever o seguinte:
"Depois deste artigo corajoso e ponderado (que não pôe em causa a evidente necessidade de alterar a terminologia actual - no que parece todos estarmos de acordo) não resta outro caminho, à Ministra da Educação, senão repensar muito seriamente tudo o que está a ser feito nesta matéria. Andrade Peres faz sugestões muito úteis (uma delas seria a de uma Terminologia da Disciplina de Português, por exemplo, para acabar com a guerra inócua entre Linguística & Literatura no Secundário), efectua uma separação das águas muito útil para que não se confunda a sua argumentação com a de alguns comentadores generalistas e ignorantes; salienta alguns aspectos positivos da terminologia; e desmonta passo a passo, ponto por ponto, a TLEBS. Em meu entender, é o fim da TLEBS (ver ainda o artigo de Jorge Morais Barbosa no JL). Seria uma vergonha se o Ministério permitisse a continuação do descalabro."
Mais tarde, no semanário Sol do passado sábado, li o "Blogue" de Marcelo Rebelo de Sousa, em que, no segundo ponto do texto "Língua e confusão", afirma:
"E que dizer da TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário) que arrancou torta em Portugal? Começou no Secundário e não no Básico; com calendário confuso; sem formação suficiente; sem coordenação e Gramática de referência para as escolas (as existentes são contraditórias); complicando a análise da Língua onde se pretende simplificadora.".
E um pouco mais adiante, aproveitando o exemplo dado pela revista Visão, na sequência de um artigo de João Paulo Guerra no Diário Económico, Rebelo de Sousa termina:
"... a palavra 'cão' passa de substantivo comum masculino a nome comum, contável, animado e não humano. E onde havia pronomes, adjectivos e advérbios, surgem quantificadores, advérbios disjuntos, modificadores preposicionais, adverbiais e frásicos. Vamos a isto, que a TLEBS é fascinante: apaixona algumas dezenas de milhares de jovens e crianças. Ou não?"
Já anteontem, naquele blogue de Francisco José Viegas, este autor volta a falar da TLEBS, fazendo, neste caso, referências a declarações prestadas pelo director-geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação. Aqui apenas vou citar do texto a parte que acho essencial:
"... afirma que a TLEBS tem deficiências e que a maior parte delas só se corrigirá depois de serem identificadas "na prática com os alunos", que servirão de cobaias para uma terminologia que "tem deficiências", como reconhece à partida.".
Li depois o artigo de opinião de Vasco Graça Moura, publicado em 21/12/2005 no Diário de Notícias, com o título "A TLEBS no sapatinho", de onde, quase ao início, fui buscar:
"A TLEBS baseia-se numa linguagem técnica de acesso difícil e em conceitos que não fazem parte da gramática tradicional e são desconhecidos da maioria dos professores. Assenta em critérios sintácticos que se sobrepõem aos critérios semânticos em termos radicalmente novos.".
E mais adiante, pode ler-se:
"Não há nenhuma gramática portuguesa que assente na TLEBS. Não há nenhum professor do básico ou do secundário que a conheça bem.".
E o artigo termina assim:
"Não sou professor, mas os professores que me contactaram merecem-me toda a credibilidade. Se as coisas são assim, ter-se-à a ministra da Educação apercebido da catástrofe? Terá visto bem a prenda que o Pai Natal pôs no sapatinho da língua portuguesa?".
Posso referir ainda o blogue semrede onde o seu autor escreve em 27/11/2005 o texto "TLEBS comparadas", que considero bem argumentado e esclarecedor. A quem estiver interessado nesta questão, aconselho a consultar este blogue. Mas não resisto a citar um excerto do comentário colocado no 'post' por "Lena b" no dia 01/12/2005:"Demorei a comentar porque toda esta polémica acerca da TLEBS me parece completamente surrealista. Primeiro, porque, para ser levada a sério, teria de ter começado há dois anos e não apenas agora. Segundo, porque me parece que, de repente, toda a gente se transformou em linguista - até o Miguel Sousa Tavares e aquele rapaz do "gato Fedorento". Terceiro, porque, à medida que vou lendo os artigos desses "linguistas de bancada", cada vez me convenço mais de que querem transformar um assunto científico num problema político. E o pior é que estão a conseguir, pois a Ministra da Educação já afirmou recentemente, numa entrevista, que as reclamações deviam ser endereçadas ao anterior Governo, que tinha publicado o Decreto... Mas agora a gramática também está ao serviço da oposição?!".
Temos também, para consulta, a portaria nº 1488/2004 de 24/12, que consagra a TLEBS como experiência pedagógica, e a portaria nº 1147/2005 de 08/11, que alarga a aplicação da nova terminologia a todas as escolas do ensino básico e secundário.
Ainda temos a petição on-line contra a implementação da experiência pedagógica TLEBS.
E, creio, deverá haver muitos mais artigos, textos, opiniões, etc., que não tive sequer conhecimento da sua existência.
Certo é que a problemática da TLEBS não é pacífica, temos muita polémica à sua volta. Há pessoas, com reconhecida formação académica na área da língua portuguesa, que são a favor da TLEBS, embora também notem deficiências que será necessário corrigir. Outras, de nível académico idêntico, são contra a TLEBS, porque, não sendo contrárias à actualização da terminologia tradicional, entendem que "apresenta deficiências e lacunas de uma gravidade tal que fazem desta terminologia, tomada na sua globalidade, um objecto que não merece crédito científico, que envergonha a Linguística portuguesa e o próprio país e que não se entende como pode estar a ser introduzido no sistema de ensino." - palavras do Prof. João Andrade Peres no artigo já referido.
E, então, qual é minha posição? Sou contra a implementação da TLEBS! Sou contra porque, em muitas escolas do ensino secundário, cujos alunos já foram abrangidos no ano lectivo corrente, a formação dos professores ainda não está finalizada. Sou contra por causa da confusão que se vai criar nos alunos do secundário habituados durante vários anos a fazer uso da terminologia tradicional. E ainda sou contra porque, embora sabendo que "a língua é, pela sua natureza, um 'objecto' dinâmico" e que "a gramática tradicional e normativa depressa se torna obsoleta e incapaz de dar conta de todos os fenómenos que nela ocorrem" - palavras de "Lena b", citada acima, a TLEBS "arrancou torta" - como disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Finalmente, sou contra porque, tendo em conta o futuro dos meus netos menores [uma prestes a terminar o ensino básico], não perspectivo, nem agora nem há mais de trinta anos, vontades concertadas dos poderes políticos, quaisquer que sejam as suas cores, de modo a se implementar em Portugal um sistema de ensino coerente no seu todo, atraente para quem ensina e para quem é ensinado e eficaz na sua interligação com a vida real do país que somos todos nós.
E, por tudo isto, já posso dizer: venha daí a 'petição on-line para eu assinar!