tretas -> ardis, manhas; palavreados; lérias; palanfrórios; e coisas sem importância [algumas vezes com...]
domingo, 26 de dezembro de 2010
Noite de consoada
Era uma vez... uma noite de consoada.
Mas este conto não vem dos tempos antigos, como é normal quando se começa com "era uma vez...". Não, a história desta noite de consoada é recente, aconteceu há dias.
Naquela noite, o Zacarias sentou-se à mesa para o jantar de consoada. Trata-se de um homem com quase sessenta anos e um rosto em que se notam as rugas deixadas pela marcha do tempo. Não se encontrava sózinho para consoar, tinha a companhia de um familiar. Na mesa, havia de tudo o que era habitual nesta quadra natalícia, como se fosse em casa dos pais quando era pequeno. Nas travessas, estavam os lombos de bacalhau, as pencas e as batatas, tudo cozido, e depois, no prato de cada um, regado com molho de azeite e alho. Ao contrário dos outros anos, em que se bebia um maduro branco, esta noite foi aberta uma garrafa de tinto da zona do Dão. Para a sobremesa, haviam rabanadas, sonhos, aletria, bolo-rei e outros doces.
Mas o Zacarias não estava contente naquela noite. Até se poderia dizer que estava com um ar triste, o que aliás não era diferente do seu estado de espírito das últimas consoadas. As razões para a sua tristeza eram bem dele e não as manifestava a ninguém. O certo é que ultimamente andava cada vez mais fechado em si mesmo e, devido a isso, já manifestava tiques de velho taciturno e resmungão. E isto era uma situação que ele não queria de modo algum, pois sempre pensou que não gostaria de tornar-se um velhote rezingão.
Como poderia ele evitar aquele crescendo de atitudes negativas? O que poderia fazer? Como é que voltaria a ser o homem alegre e de bem com a vida com era antes? Estava farto de pensar no assunto. E quanto mais tempo dedicava a analisar o seu modus vivendi na última década, mais convicto ficava que teria de dar uma volta de 360 graus à sua vida, de virar do avesso muitas das atitudes e das vivências que teve nos últimos anos.
E quando é que o Zacarias irá tomar uma resolução naquele sentido? Nos próximos meses, pensa ele.
Na noite de consoada do próximo ano saberemos se o conseguiu.
...
- E pronto, Tiago, chegou ao fim a história da noite de consoada do Zacarias que...
- Ó Nando, eu sei que o Zacarias não existe, é tudo da tua imaginação.
- Pois... às tantas tens razão!
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