quinta-feira, 29 de abril de 2010

A escola da esperança


Com o título acima, pode ler-se na edição de hoje do jornal i uma crónica do jornalista americano Nicholas Kristof a respeito de uma escola secundária fundada na localidade de Marial Bai, no Sudão, por um refugiado sudanês. Daquela crónica, transcrevo isto:

"O Sudão meridional é uma das regiões mais pobres da Terra e esta remota localidade, a 200 kms da estrada alcatroada mais próxima, não tem electricidade nem água canalizada. No entanto, graças a um notável jovem cidadão dos EUA que lá cresceu e aos leitores que o apoiam, a localidade tornou-se um pólo de atracção para os jovens sudaneses que sonham aprender.

Rapazes e raparigas chegam aqui vindos de locais a centenas de quilómetros de distância, na esperança de serem admitidos num novo colégio interno. Este é um projecto nascido da vontade de Valentino Achak Deng, cuja fuga da guerra e da fome é contada no bestseller de Dave Eggers "What is the What".

Valentino foi separado da família durante a guerra civil sudanesa e passou a infância a evitar soldados, minas antipessoais, leões e outros perigos. Aprendeu a ler e a escrever desenhando letras na areia num campo de refugiados e, em 2001, foi aceite nos EUA como refugiado. Foi estudante-trabalhador até concluir a faculdade e depois resolveu compensar pelo que tinha recebido.
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Dave e Valentino aplicaram os lucros de "What is the What" na fundação da dita escola secundária, que está agora a seleccionar alunos para o seu segundo ano lectivo, a arrancar dentro de dias. Mais de 1.000 alunos, alguns deles adultos que viram os seus estudos interrompidos pela guerra, estão a competir pelas 150 vagas do nono ano.
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No ano passado, em todo o Sudão meridional, só 11 raparigas fizeram exames de fim de secundário, segundo estatísticas governamentais.

Um dos dados estatísticos oficiais mais brutais do Sudão meridional é este: uma rapariga tem muito mais probabilidades de morrer de parto do que completar a educação básica.
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Esta escola é gratuita, única esperança de alunos brilhantes que não têm dinheiro para propinas, mas são os próprios alunos que se encarregam da limpeza e manutenção das instalações.
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Valentino procura tornar a escola multi-étnica, aceitando alunos árabes muçulmanos ligados com as tribos do norte que devastaram o sul durante a guerra civil. Tem alunos empenhados em projectos sociais, como a construção de cubatas para pessoas deslocadas e está empenhado em criar dirigentes capazes de construírem um país mais pacífico e mais próspero.
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Esta escola não é uma solução para os problemas do Sudão e vai educar apenas uma diminuta percentagem de jovens sudaneses que aspiram a um futuro melhor. Mas é uma centelha estimulante num país crivado de problemas."


Fica aqui registado o bom exemplo daquele jovem refugiado sudanês.

1 comentário:

redonda disse...

Há dias passou um documentário na televisão sobre uma rapariga nascida no Afeganistão, mas criada em Londres que regressava à sua terra natal. Entre muitas outras coisas também a chocava como algo que para ela era certo e normal (ir à escola) para garotas da sua idade era um acto de coragem que podia custar-lhes a vida.