O
momento em que a porta da vida se abre é mais ou menos previsível. Com semana a
mais ou semana a menos, a vida surge na altura esperada.
Já
o fecho daquela porta é quase sempre imprevisível. E isto é o mesmo que
dizer que a porta da morte abre-se quando menos se conta. Por isso, também se
diz que a morte faz parte da vida ou que a distância que separa a vida da morte
é infinitamente diminuta ou com tendência muito forte para o cagasésimo ou até
mesmo para o quase zero.
Falar
da vida é muito mais corrente do que falar da morte. Falar da vida traz consigo
alegria, esperança ou futuro. Quando a conversa é acerca da morte, então aí vem
tristeza, desespero ou passado. Mas, se pensarmos que a vida e a morte são
questões indissociáveis, ou seja, não há morte sem vida, é um pouco difícil de
entender a razão que leva as pessoas a olharem a morte como um tabu. E não é
por se falar de menos da morte que esta não nos vem cobrar a vida vivida, quer
esta tenha sido muito curta ou demasiado longa.
Outra
questão que se prende com este tema é a publicitação e a celebração que se fazem
em cada um destes acontecimentos.
Por
seu turno, o falecimento de alguém, pela sua imprevisibilidade, só é comunicado
após ter acontecido. E isto sucede apesar da sua inevitabilidade, isto é,
quando alguém nasce sabe-se com certeza absoluta que, poucos ou muitos, anos
mais tarde há de a morte aparecer, visto que “ninguém fica cá para semente”.
Como imprevisível que é, muitas vezes a morte surge de forma solitária, apenas
com a presença de quem, num abrir e fechar de olhos, “sente” a porta da vida a
fechar-se. E isto verifica-se a miúde nos casos de contingências diversas, como
nos acidentes rodoviários, ferroviários ou de aviação, desastres naturais, etc.
Contudo, noutras ocasiões, a morte contem uma certa dose de previsão, quando
uma doença grave e alongada no tempo faz crer que a sua vinda está para breve.
E aí, nesses casos, o instante preciso da sua ocorrência é quase sempre
acompanhado por familiares chegados, bem como por pessoal médico especializado.
O anúncio da morte de uma vida é feito de modo triste, grave e pesaroso, muitas
das vezes passa de familiar para amigo num esquema de “passa-palavra”, ou então
nas páginas próprias dos jornais locais. E, quase sempre, o último
acompanhamento do corpo sem vida, do morto que foi vivo, é processado de forma
triste, grave e pesarosa, numa procissão de dezenas de familiares, amigos, vizinhos
e conhecidos, quase todos vestidos de cores escuras e frias.
Dezembro/2013
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