domingo, 7 de dezembro de 2008

Neves e Sousa


Por mão amiga, há dias chegou cá a casa um livro que constitui uma bela e merecida evocação da obra de Neves e Sousa. Trata-se de uma publicação recente da Sextante Editora, com o título "Neves e Sousa - pintor de Angola - 1921-1995"

Na capa do livro, ressalta um quadro do artista onde registou a figura de uma mulher do sul de Angola. E no interior pode-se ter o gosto de admirar desenhos, aguarelas e óleos de Albano Neves e Sousa, além de outros contributos incluídos na publicação.

Como também era poeta, tomo a liberdade de aqui reproduzir um dos seus poemas [escrito no Brasil, onde viveu nos últimos vinte anos da sua vida]:

Angolano

Ser angolano é meu fado e meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor e condição
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor
Não é questão, nem mesmo de bandeiras,
De língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças doutras terras,
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento.


Neves e Sousa
1979



Nota: O livro foi oferecido à Inha, a minha mulher, que, desde adolescente e em Luanda, conviveu de perto com o Neves e Sousa e a sua mulher. Aliás, foi em casa dos meus sogros que, em tempos mais recentes e aqui no Porto, tive a oportunidade de conhecer, pela primeira vez, alguns quadros do pintor que lhes foram oferecidos pelo próprio. Cá em casa temos um retrato da minha mulher, aos quinze anos, desenhado a carvão pelo "pintor de Angola".

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