O
Lembrei-me de registar neste espaço um aspecto que a meu ver, no mundo do futebol, parece ser o contraste entre os jogos de miúdos e os de graúdos. Há com toda a certeza mais factores de diferenciação, mas aquele que pretendo registar aqui é o do comportamento do público.
Na manhã do último domingo, fui ao antigo Campo da Constituição para ver um encontro de futebol masculino do escalão sub 14. A assistir, estiveram lá apenas algumas dezenas de pessoas, até porque o espaço destinado aos espectadores não dá para muito mais [e, além disso, o frio intenso e a chuva também não ajudaram nada...]. Creio que, na sua grande maioria, eram familiares ou amigos dos jogadores das equipas presentes no relvado.
Durante aquele jogo, houve berros e gritos dos espectadores com vista a motivar os jogadores a não desistirem das jogadas, a passarem a bola para o médio ou para o extremo, a centrarem junto à linha ou a rematarem à baliza. Houve palmas para os guarda-redes pelas boas defesas. Houve incentivos nos momentos de jogadas bem desenroladas. Houve aplausos quando aconteceram os golos. Houve ainda discordâncias em relação a uma ou outra decisão do árbitro. Mas tudo foi berrado ou gritado de um modo adequado ao sítio e ao acontecimento, com educação q.b., com palavras certinhas, o que para mim, neste caso, significa que não saíram para o ar insultos a quem quer que fosse. E, até por se tratar de um jogo de miúdos, foi esse comportamento correcto do público o que mais me agradou e, por isso, o que marcou mais a minha atenção.
Em contraste com tudo aquilo, ao longo dos últimos três anos tenho presenciado comportamentos despropositados e de má educação em [quase*] todos os jogos de graúdos a que assisti no Dragão. Começa logo meia hora antes do jogo, ainda na fase de aquecimento das equipas, pela provocação aos jogadores adversários e aos seus apoiantes, com assobiadelas e alguns insultos à mistura. Mais tarde, durante a partida, a cada passe errado dos portistas, a cada entrada mais dura dos adversários, a cada substituição considerada inoportuna ou tardia feita pelo treinador da casa, a cada decisão da arbitragem julgada menos certa, soltam-se então as goelas de milhares de adeptos e saem, de modo desenfreado, as assobiadelas [que até são um mal menor] e os palavrões em vários tons e feitios, do género ó filho da puta ou o teu pai é um cabrão ou ainda ó corno vai pró caralho. E os insultos são para todos os protagonistas [e, mesmo que o adversário em campo não seja o clube do Eusébio, também os benfiquistas são contemplados, como acontece quando algumas centenas de gajos das claques portistas se põem a gritar ésse-éle-bê filhos da puta**]. Ninguém escapa ao despropósito e à má-criação. E desta parte do espectáculo de futebol não gosto, não gosto mesmo nada.
É evidente que nos jogos de graúdos a que assisti até hoje não se passa apenas aquilo. Também há festa. Agitam-se bandeiras, vêem-se cachecóis no ar, ouvem-se cânticos clubísticos, e tudo isso é porreiro. E também há aplausos e vivas ao fê-cê-pê quando o Lisandro e os outros dragões marcam golos. É a festa do futebol. E desta parte do espectáculo de futebol gosto, gosto imenso.
E por gostar da festa do futebol é que desejo continuar a ir ao Dragão. Mas tenho muita pena que os espectadores dos jogo de miúdos não encham os estádios de futebol dos graúdos com as atitudes que presenciei no domingo. Ou, então, lamento imenso que muitos dos espectadores dos jogo de miúdos se transfigurem ao ponto de alterarem, para pior, os seus comportamentos quando vão assistir aos jogos de graúdos. E, a meu ver, com isso acaba-se por estragar a festa do futebol.
Obs.:
* A excepção aconteceu o ano passado, após o campeonato 2006/2007, no encontro com o Leixões para a Festa dos Campeões [as fotos são desse jogo].
** E não serve de desculpa o facto dos benfiquistas procederem de modo idêntico na Luz.
Nota: Não sou especialista em futebol e, como já referi no post anterior, considero-me apenas um adepto portista que senta o cagueiro na bancada do Dragão nas semanas sim e que alapa o dito no sofá frente à têvê nas semanas não.
** E não serve de desculpa o facto dos benfiquistas procederem de modo idêntico na Luz.
Nota: Não sou especialista em futebol e, como já referi no post anterior, considero-me apenas um adepto portista que senta o cagueiro na bancada do Dragão nas semanas sim e que alapa o dito no sofá frente à têvê nas semanas não.
4 comentários:
Há já algum tempo que acompanho o meu filho no Futsal e, felizmente, durante os jogos observo o que descreveste no terceiro parágrafo deste post.
bjs
Olá Gigi,
E é só assim que o futebol [ou o futsal] pode ser um espectáculo agradável de assistir ao vivo.
Beijos.
é uma pena que os adultos não pensem que servem de exemplo aos miúdos (que por vezes estão nas bancadas com pais e amigos). é uma pena que os jogadores incitem muitas vezes a má criação e a violência (mesmo sabendo que estão a ser filmados). por vezes é uma penma o poder das massas....
beijo
Olá Luísa,
É mesmo isso... é uma pena!
Mas também acho que cada um de nós, os graúdos, pode tentar, através do seu exemplo, que os miúdos de hoje disponham amanhã, nas suas mãos, de um poder das massas mais respeitador dos outros. Mesmo que para isso seja preciso repetir a tentativa mais uma vez, e outra mais, e mais outra...
Beijos.
Enviar um comentário