segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Edson Athayde e as crónicas


Sou um fã das crónicas do Edson Athayde desde há vários anos. Gosto do modo como escreve, de forma simples e escorreita.

Em Abril de 2007, publiquei um post a respeito do seu livro de crónicas com o título Os Trintões. Ultimamente, têm sido publicados textos dele nas edições de fim-de-semana do jornal i, onde é indicado como "publicitário, escritor e facebooker".

É de uma das crónicas deste mês que, aqui, vou apresentar alguns excertos. Com o título "O mundo às costas", o autor expõe os seus pontos de vista no que respeita às opções que se tomam ao mudar algo no curso da nossa vida.

Quase no início do texto, pode ler-se:
"Viajar pressupõe escolhas. Nem estou a falar dos destinos. Vai-se para onde se quer ou se pode. O resto é conversa. O que levar consigo e o que deixar para trás: essa é que é uma conta complicada de fechar." E mais adiante: "se você tivesse de enfiar numa valise apenas as coisas que realmente importam para si, o que é que entraria?".

O escritor entende que a pergunta é arrevesada por considerar que "não estamos falando apenas de objectos. Também contam pessoas, relações, sonhos. Agora troque a valise pela sua existência: na hora da viagem (que pode ser apenas o trânsito de um momento para outro da vida, uma mudança de trabalho, o fim de um curso, o término de um casamento) há coisas que você até adora mas, feitas as contas, optará em deixar para trás.".

E para exemplificar o seu raciocínio, no parágrafo seguinte diz:
"Falo isso por experiência. Há décadas deixei de tentar carregar o mundo às costas. Sempre tive poucas coisas materiais justamente para não ter de me apoquentar com elas. Amanhã ou depois quero trocar de cidade, de emprego, de interesses e fica mais fácil se eu não tiver amarras, nem bens para cuidar.
Confesso que o inverso (consequência directa desse tipo de vida) não é bonito. Regularmente sou abandonado por pessoas que não querem ou não podem acompanhar esse meu ritmo. E é sempre duro perceber que você não cabe na valise de alguém. Nada a fazer, há que se engolir o choro e seguir em frente."


E a crónica termina desta maneira, quase como começou:
"Uma coisa nova, uma coisa velha, uma coisa emprestada, uma coisa azul. Essa pode ser a equação a seguir. Amizades novas, velhas, um bom amigo de um amigo e um céu cyan com poucas nuvens. Junte-se o dourado de uma boa cerveja ou o rubi de um grande vinho. Depois é só fechar a mala ou a mochila, abrir um sorriso e partir."



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