quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Viver também é recordar!


Naqueles tempos, meados dos anos 20 do século passado, e até pelos efeitos nefastos da I Grande Guerra, o modo de vida era muito duro para quase toda a gente, e ainda mais para as populações que viviam no interior do país.

Em Jazente, uma pequena freguesia de Amarante, as pessoas eram pobres e tinham grandes problemas para viver o seu dia-a-dia. E naquela família, de mãe solteira com três filhas, as dificuldades ainda eram maiores.

A filha mais nova, com apenas 6 anos, já levava as cabras ao pasto para os montes das redondezas. Muitas vezes ia descalça ou, então, nos dias frios e de neve no inverno, levava calçadas umas meias de lã feitas pela mãe.

Mas certo dia, tinha 7 anos, a sorte sorriu-lhe um pouco, pelo menos no que aos pés dizia respeito. É que, num dos regressos dos montes com as cabras, encontrou o Zézinho Carvalhal, pessoa rica e dona de muitas terras por aquelas bandas, mas também amiga de ajudar os pobres. Então, dirigiu-se-lhe e, na sua ingenuidade de criança, pediu:
- Ó senhor Zézinho pode dar-me umas socas de madeira?

Em resposta, o abastado proprietário mandou-a ir à "venda" da aldeia, dizer ao dono da loja que ia do mando dele e escolher as socas que queria. E foi assim que aquela miúda teve calçado pela primeira vez na sua vida e deixou de andar descalça, pelos menos nos dias frios e de neve no inverno.

Acontece que aquela menina cresceu, tornou-se mulher, casou e, vinte um anos depois daquele episódio, foi mãe pela primeira vez, por sinal num dia de inverno. E nesse dia, eu nasci!





Nota: A foto foi tirada passados mais de 80 anos após aquele episódio, mas a propriedade do Sr. Zézinho Carvalhal mantem-se no lugar, talvez ainda com o mesmo portão daquela altura. Com a evolução dos tempos, agora está destinada a turismo de habitação.

1 comentário:

o neto disse...

Eu conheço esta história!
Ouvia-a da minha avó.
Acho que era a tua mãe.